sábado, 23 de fevereiro de 2008

O morrer como estrada para Vida!

“Aquele que crer em Mim, ainda que morra Viverá”. Que descanso imensurável! Vivamos nesta certeza de que o que aqui vivemos é apenas um momento rápido, fugaz, passageiro, transitório, efêmero, é só um caminho de preparação da nossa alma-existência para uma vida verdadeira na presença do Pai!
Ainda que morra viverá, ou seja, aqui ainda neste existir presente há morte física e em todos os sentidos, mas na outra dimensão, no outro existir não há morte. É justamente por isto que o Senhor nos chama para sairmos, para tirarmos o nosso foco daquilo que é só uma passagem e entrarmos na pacificação plena de uma realidade perpétua, eterna de alegria, gozo e paz, muita paz na presença do nosso Paizinho amado!
Como alguém já disse: “Sabemos que esta vida é só uma passagem, mas vivemos como se fosse perpétua”. Queremos perpetuar tudo, perpetuar o saber, a posição na vida, o modo de pensar, de ser, e principalmente aquilo que materialmente nos custa mais, vamos esquecendo que as únicas coisas que podemos perpetuar nesta vida são os abraços, os sorrisos, as amizades verdadeiras, os amores reais de nossa existência. Aprendamos a amar!!!
Amar a Deus acima de tudo, pois esta mesma necessidade de perpetuar a tudo evidencia em nós a eterna carência do Pai da eternidade!
E pôs Deus no coração do homem a Eternidade!

Com amor e descanso nAquele que não tem início e nem fim de dias!

André Soares
20.02.2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Só precisamos Viver!

Tudo é sempre muito estranho e nós não entendemos mesmo muito bem as coisas que nos concernem no dia a dia, mas para Ele não é, pois nEle é trabalho de vida! Aquele já cheira mal, mas Ele dirá: vem pra fora VIVER, sai do túmulo de tuas agonias!
Tudo quase sempre está fora do nosso controle, mas para Ele nunca está!
Nunca sabemos como ou quando Ele chegará, mas sabemos que Ele chega! E Ele chega nem que seja sobre o mar das nossas próprias mazelas!
Então vivamos a certeza linda de todas as incertezas que nos habitam no coração, mas que são luzeiros na presença do Pai e então o incerto se torna o CERTO nEle!
Como é bom saber que Ele não nos priva das tempestades e nesta hora pode até está dormindo, mas que na hora certa se levantará para repreender o vento e o mar das nossas dores e agonias, das tristezas, dos medos, da angustias...
Como é bom saber que Ele aqui está entre nós, não como amuleto, mas como Espírito e Vida, interagindo de forma viva e eficaz para nos ensinar que acima de tudo e de todos está Aquele que traz a existência o que não existe, e das coisas loucas deste mundo faz nascer o seu povo!
Então seja nas ações mais esquisitas possíveis como abrir o mar, andar por sobre ele ou dormir no meio deste em plena tempestade, só me fica o grande ensino, Ele me permite passar por tudo isto, para me ensinar que nisto tudo está a manifestação da Sua Glória e do seu Amor por mim!!!

Com esperança sempre nAquele que nos faz viver e nos fortalece em meio a toda dor e tempestade e nos livra na Sua hora apesar sermos quem somos!!!

André Soares
17.02.08

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Mentoria - Resista a tentação.

Prezado Diego,

Continuemos. Você lidera uma comunidade de fé e seu perfil, bem como o meu, vem de uma tradição evangélica. Somos herdeiros, quer gostemos ou detestemos, do fundamentalismo estadunidense. Nosso berço foi construído por missionários enviados “para as terras pagãs brasileiras”, esse pessoal lutou para nos evangelizar!

Como terceira, ou quarta, geração depois das primeiras fornadas de missionários, só guardamos uns meros traços desse pedigree. O Brasil é realmente uma panela onde se misturaram diversos temperos culturais e raciais. Tenho certeza que os fundamentalistas que aportaram por aqui no começo do século XX já não reconheceriam as igrejas que inauguraram. Nos últimos 30 anos os evangélicos adquiriram outra identidade.

Eles têm um perfil religioso que se nacionalizou; ficou com outra cara ao incorporar rituais, símbolos e mitos tanto do catolicismo como das religiões afro-brasileiras. As novenas católicas, por exemplo, se aculturaram e passaram a ser chamadas de “corrente de oração”; as fitinhas do Senhor do Bonfim amarradas no braço (com outros dizeres, obviamente) guardam a mesma função de proteger como nos terreiros da Bahia.

Não faço um juízo de valores sobre tal sincretismo. Entendo que toda expressão religiosa, inclusive a judaica, absorve práticas e crenças de outras culturas – os estudiosos afirmam que o zoroastrismo influenciou bastante o judaísmo. Censuro o abrasileiramento dos evangélicos por razões éticas. Percebo oportunismo na esmagadora maioria dos líderes que adotaram as práticas afro-brasileiras e católicas, porque procuram lotar o templo a qualquer custo. Isso é ruim.

Diego, aqui está o seu desafio. Como contextualizar a mensagem sem descambar para um cinismo oportunista. É muito fácil seguir por atalhos na religião. Quando um sacerdote percebe o viés místico de uma determinada cultura e a manipula, reforça, com certeza, vai inchar o seu auditório. O que se observa no cenário religioso latino-americano é que igrejas se inflaram de gente interesseira, que busca um deus pelo que ele possa dar.

Perceba o cenário atual. A indústria do consumo martela diariamente que a felicidade chega junto com os últimos lançamentos tecnológicos do mercado. Acontece que a oferta de bens é maior do que o poder aquisitivo da maioria. Por isso, para contornar o problema, alongam-se os crediários - é possível comprar quase tudo em prestações a perder de vista. Agora, imagine um líder religioso, que se diz em perfeita sintonia com Deus, prometendo riqueza e prosperidade para quem obdecê-lo.

Essa mentalidade tornou-se tão difundida na cristandade latino-americana, que o culto deixou de ser um espaço onde se fomentam virtudes, vida, para tornar-se uma aula de auto-ajuda – ou de “psicologia-de-revista-de-fofoca”. Nessa toada, pastores prometem mundos e fundos, juram que todos os que ofertarem receberão de Deus cem vezes mais; tele-evangelistas propagandeiam milagres espetaculares, curas fantásticas e riquezas fáceis.

Mas quando se observam esses pretensos milagres com um mínimo de bom senso, nota-se que os discursos não passaram de charlatanismo confeitado com piedade.

Eles dão a entender que Deus se especializou em curar caroço, dor no braço, mal estar em velhinhas, mas se esqueceu das síndromes de Down, das paralisias cerebrais e das quadriplegias. Sou mortal, finito e bastante pecador, mas posso afirmar que se fosse Deus, com disposição para operar maravilhas, eu escolheria os mais carentes, os mais desamparados, os mais doloridos.

Por que Deus faria milagres menores, perfeitamente passíveis de serem curados pela medicina, para abandonar os indigentes que morrem de câncer nos hospitais? Por que a agonia gratuita e absurda de crianças continua nas favelas e nas comunidades ribeirinhas? Ainda: por que Deus emprestaria o seu nome para servir de propaganda para evangelistas com gravíssimos desvios éticos?

Escrevo para que você não se sinta diminuído ou menos “abençoado” por não participar da mentalidade que se difundiu entre os evangélicos. Sua vocação tem a ver com a construção de um mundo mais justo e mais humano. Sua missão é ajudar as pessoas a serem verdadeiras, solidárias; enfim parecidas com Jesus de Nazaré.

Por causa da graça, acredito que os milagres não são da competência de homens e mulheres – Deus não faz mais ou menos pelo número ou pela qualidade das nossas orações. Por causa da graça, acredito ser mais nobre nos dispormos a encarnar as mãos, boca e pés de Deus, do que implorar que ele resolva, por intervenção sobrenatural, os problemas da vida.

Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

A vantagem de não ser nada.

Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada. Se fosse alguma coisa, não poderia imaginar. O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra não o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra está privado de ser, em sonhos, outro rei que não o que é. A sua realidade não o deixa sentir.

Fernando Pessoa em "Livro do Desassossego" - Cia das Letras, p.185.

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

PROVISORIAMENTE não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade.

TEOLOGIA

MINHA teologia nada tem a ver com teologia.
É vício.
Há muito que deveria ter abandonado este nome.
E dizer só poesia, ficção.
Descansem os que têm certezas.
Não entro no seu mundo e nem desejo entrar.
Jardins de concreto me causam medo.
Prefiro a sombra dos bosques
e o fundo dos mares,
lugares onde se sonha....
Ali moram os mistérios
e o meu corpo fica fascinado.

Rubem Alves

OS OUTROS

Jesus está conosco em suas palavras, no que ele deseja e pensa a nosso respeito. Jesus Cristo, o próprio Deus, dirige-se a nós através de cada ser humano.
A outra pessoa, aquele desconcertante e inescrutável Outro, é a demanda de Deus sobre nós, é o próprio Deus vindo ao nosso encontro.
Enquanto existirem seres humanos Cristo vagueará pela terra, como o seu próximo, como aquele através de quem Deus chama você, fala com você, faz demandas a você. Esta é a grande urgência e a grande benção da mensagem do Advento: que Cristo está à porta, está vivo na forma das pessoas ao nosso redor. Você abrirá ou fechará a porta para ele?
Devemos reaprender a compreender o significado da solidariedade humana: Deus quer seres humanos, não fantasmas que evitam o mundo. Ele fez da terra nossa mãe. Se você tem anseio por Deus, abrace o mundo; se quer encontrar a eternidade, sirva o momento presente.

Dietrich Bonhoeffer